Maternidade e Libido
Os temas mães e tesão cabem em uma mesma frase?
Claro que cabem. Esse deve ser um papo de qualquer mês do ano, mas com a aproximação do dia das mães, naturalmente, o tema fica mais em foco e decidimos trazer a questão: Como fica a libido na vida das mães? É normal haver turbulências e perda do desejo sexual após o nascimento do filho? E, com esse nascimento, nasce também uma mãe já sem aquele desejo pelo prazer que antes existia?
São muitos questionamentos que circundam esses dois aspectos, e muito porque são dois aspectos também atravessados por outras tantas questões: cultura, rotina, trabalho, casa, partilhas de tarefas e responsabilidades, amamentação, privação de sono, e, principalmente: o que se espera de uma mãe. Mas então, afinal, como é a libido de uma mãe?
*ps da editoria: A Climaxxx nesse texto usa a palavra “mulher” e “feminino” para designar o sexo feminino, mas gostaríamos de deixar claro que existem pessoas que não se encaixam nesses padrões e que ainda assim podem ser mães, como homens trans, pessoas não binárias e intersexuais. Nós acolhemos todas essas vivências. A fim de que esse texto chegue em mais pessoas, usamos o encadeamento de alguns termos que são mais pesquisados nosque podem reforçar esses padrões cisnormativos e já queremos nos desculpar de antemão.
Libido na gestação
Ao iniciar o processo de gestação, o corpo passa por processos fisiológicos muito únicos desse período, pois delega muita energia e nutrientes a esse novo serzinho que está se formando. A mudança hormonal pode influenciar em uma diminuição da libido das mulheres, mas é importante lembrar que cada gestação é diferente da outra, e que pode ser normal tanto a perda do desejo quanto o aumento do desejo.
Uma pesquisa canadense citada pela Dra. Aline Rangel relata que entre mil mulheres, 56% disse ter diminuição do desejo sexual durante a gravidez - e também que 29% se sentiram inseguras em transar durante esse período.
Essa insegurança pode vir a partir de muitos tabus sociais, e a gente acredita que isso afete com ainda mais intensidade as mulheres nessa fase do que a própria fisiologia. Por exemplo, o grande mito que diz que o bebê vai sentir o pênis na sua cabeça durante a relação sexual, ou até mesmo o próprio imaginário coletivo que temos das grávidas, que é sempre na figura de um ser “puro” que não peca (alô Maria que engravidou virgem) - em uma visão bem cristã. Além disso, também existe a insegurança de muitas mulheres de poder ter um aborto espontâneo e, assim, perderem o desejo sexual tomadas por esse medo.
Libido no puerpério
Oficialmente a fase considerada como puerpério é a dos quarenta dias após o parto. Na prática, consideramos que dura um pouco mais, podendo ser até a menstruação retornar ao seu ciclo.
Sendo assim, quando o parto acontece, o corpo passa por diversas mudanças novamente. Uma delas é a queda do estrogênio, hormônio responsável pelo aumento da libido, da motivação e do humor. Essa redução do estrogênio resulta também em um ressecamento vaginal, que tem uma duração diferente para cada mulher, e varia em média de dois meses a seis meses.
A via de parto também interfere muito, mas de forma muito única em cada mulher. Em um parto vaginal, por exemplo, podem ocorrer pontos - seja por episiotomia, ou por lacerações naturais, e a região pode estar sensível, dolorida ou inchada. Assim como em uma cesária pode também trazer dor ao local, desconforto e sensibilidade por um longo período após o parto.
E, por último, outro fator que pode colaborar na diminuição do desejo sexual é a amamentação, que entra não só como um fator fisiológico, mas também em questões como privação de sono e oscilações emocionais.
Apesar de todos esses fatores, deixamos claro que não é uma regra e que é possível ser uma puérpera que não só tem vontade de transar, como realmente transa muito. Seu corpo é único e a sua libido é multifatorial.
*Nota da editoria: Também sabemos que muitas mulheres passam pela depressão pós-parto, às vezes até mesmo sem saber, pois acham que é “normal” nesse período. Como é um tema bastante complexo, optamos por não adentrar nele nesse texto, mas queremos deixar o alerta: mães e rede de apoio, estejam atentos a isso! Aqui tem um texto da Secretaria de Saúde do Ceará muito claro sobre o tema - e também sobre o que difere o baby blues da depressão pós-parto!
Libido com filhos crianças
Já com os filhos um pouquinho maiores, a fisiologia do corpo se torna mais semelhante ao período anterior. A libido passa a depender de fatores menos fisiológicos (relacionados à gestação e parto) e mais ligados à rotina daquela mãe.
Uma mulher que assume todas as tarefas de casa e das crianças sozinha tem muito menos chances de ter desejo sexual do que outra mulher que tem as tarefas partilhadas com as pessoas adultas com quem convive - e, logo, não está sobrecarregada com todos esses afazeres. E nesse aspecto de rotina, tudo influencia. Os horários de trabalho, a flexibilidade existente, o tempo para cuidar de si e ter seu momento de lazer, tanto sozinha quanto acompanhada, a possibilidade de fazer um exercício físico.
Essa também é uma ótima fase para pedir uma ajuda a sua rede de apoio e poder curtir um momento com seu parceiro, com seu date, com amigos e amigas ou sozinha. A criança começa a ter uma rotina mais regrada e isso possibilita o planejamento de atividades com ou sem o filho (embora você provavelmente vá escutar “Fulana, onde tá seu filho” em qualquer lugar que você vá sem ele).
Libido com filhos adultos e uma dura verdade: nossas mães também transam
Filhos adultos já não exigem tanto cuidado (ou pelo menos não deveriam exigir), já dão mais espaço para que as mães, pais ou cuidadores possam fazer sua rotina da forma que desejarem, e isso colabora muito para que a libido flua de forma mais espontânea e gostosinha.
Nessa fase também nos colocamos na posição de filhas e pessoas que precisam entender que nossas mães também transam, também sentem desejo, também se masturbam e gozam a vida. Não coloquemos as nossas mães na posição de pura que falamos anteriormente, mas que as vejamos como esse ser adulto que elas são e, quem sabe, possamos partilhar mais sobre esses prazeres com elas, não é mesmo? Dependendo do nível de partilha de vocês, você pode até contar/conversar com sua mãe sobre esse mundo dos sextoys, lubrificantes e acessórios de pompoarismo. Ela pode se beneficiar disso ;)
Lembrança: estimule o seu prazer em qualquer fase do maternar
Apesar de a libido ser algo que varia muito na maternidade, sabemos que algumas práticas podem ser mega importantes para mantê-la saudável.
- Toque na sua vulva, no seu períneo, massageie com um bom lub, se sentir vontade - nem estamos falando de masturbação, estamos falando de massagem mesmo, para mantê-la hidratada e saudável.
- Se dê o direito ao prazer, porque ele importa! Não é porque você tá se dedicando ao seu filho que o seu prazer deve ser deixado de lado. Momentos de prazer, só pra você, devem ser inegociáveis, inclusive para ter energia para essa dedicação.
- Se você tiver uma parceria, nutram também a relação de vocês. Partilhem responsabilidades, observem o que o outro precisa, troquem carinho, cuidado e afeto da forma como vocês enquanto companheires gostam de fazer.
- Não altere seu desejo por moralismo. Não é porque você é mãe que seu desejo morreu, e quem tem que entender isso são os outros.
- Se você se tocava, transava, sentia: siga fazendo, ainda mais se você está sentindo vontade. É perfeitamente normal e inclusive uma super ferramenta de bem-estar.
- Perceba o que você tem vontade de fazer em outros aspectos da sua vida. Pode parecer difícil realizar outras coisas (ainda mais coisas novas) em uma fase do maternar que demande, mas dedicar um tempinho a um sonho ou atividade que lhe dê prazer pode ser extremamente revigorante. Talvez um novo estudo, um novo hobby, uma atividade física, uma meditação, uma terapia...Fale para sua parceria e rede de apoio como isso é importante para você e se permita nutrir o seu ser para além da maternidade.
Independente da fase da maternidade, lembramos que é importante abrir espaço para o prazer, sem culpa. Durante muito tempo ele nos foi negado, mas hoje, que sabemos da importância dele, podemos fazer o possível para nos movimentarmos nessa direção!
Escrito por Bárbara Silva Viacava
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