Para ensinar crianças feministas: Dias dos Pais com afeto e igualdade
Apesar de muitas pautas do feminismo serem recentes, já faz muito tempo que as mulheres buscam por direitos mais igualitários. A primeira mulher considerada feminista foi Mary Wollstonecraft (1759 - 1797), que desenvolveu um pensamento sobre as raízes da opressão sofrida pelas mulheres. Ainda assim, foi só depois de 1900 que de fato o movimento começou a obter algumas conquistas relevantes: direito ao voto, o acesso à educação, mais igualdade salarial, direito de divórcio, direitos reprodutivos e mais espaço na política. A mulher passou a ser tratada de fato como um indivíduo, e não mais vista como alguém que precisava de autorização do marido para qualquer coisa que desejasse fazer.
Sabemos que mesmo tendo esses direitos perante a lei, na vida social ainda existe muita desigualdade e violência com as mulheres. Ainda existe muita desigualdade salarial, sobrecarga materna e muitos preconceitos de gênero - e mais ainda com as mulheres negras e periféricas.
Então, nada melhor do que um pequeno guia de como ensinar filhes feministas - para que o feminismo seja de fato uma luta pelo fim de qualquer desigualdade, uma luta que abrigue também pessoas com outras identidades de gênero, que seja antirracista e anticapacitista - contra qualquer tipo de opressão!
Para isso, nos inspiramos e trouxemos como referência o livro Para Educar Crianças Feministas, de Chimamanda Ngozi Adichie.
Ensinamentos sobre si mesme
A primeira dica que trazemos é ensinar às crianças alguns aspectos e valores sobre si. Uma criança feminista entende o seu valor perante as pessoas que convive - sabe que seu valor não depende de coisas externas. Portanto, jamais deve ter esse direito ameaçado por parentes e amigues.
Além disso, ela também precisa saber que papéis de gênero não existem. Não há algo que ela possa ou não fazer por “ser menina” ou “ser menino”. Crianças podem fazer coisas de criança, essa é a regra.
Por fim, é também importante que a criança entenda sua identidade e a valorize - que ela tenha orgulho de suas raízes. E lembrá-la que ter orgulho não é concordar com tudo, ela pode perpetuar as coisas boas e mudar as coisas ruins.
Ensinamentos sobre os outres - e a sociedade
Consideramos que a coisa mais importante a se ensinar no aspecto social é sobre o compartilhamento de tarefas. É importante que ela veja dentro de casa que as pessoas adultas responsáveis por ela têm essa divisão justa de afazeres e responsabilidades, e que a criança aos poucos também vá entendendo os seus deveres com esse espaço que vive.
Ela também precisa aprender sobre a diferença que compõe o mundo - e entender que essa diferença é algo comum, normal, e não precisamos atribuir nenhum tipo de valor às diferenças. Assim, ela será uma pessoa mais humana e saberá que o mundo é mesmo diversificado, e todas pessoas merecem respeito e dignidade.
Por fim, como última dica da camada social, ensine sua criança a questionar a linguagem que utilizamos. Sabemos que não é tão simples, mas é através dela que o preconceito se estabelece nas nossas vidas, e questionando a própria linguagem, é possível modificar isso. Como Chimamanda cita em seu livro: “Uma amiga minha diz que nunca chamará a filha de ‘Princesa’. Quando as pessoas dizem isso, a intenção é boa, mas ‘princesa’ vem carregado de pressupostos sobre sua fragilidade, sobre o príncipe que virá salvá-la etc.”
Ensinamentos sobre relacionamentos
Esse tópico vale para todas as crianças, mas principalmente para meninas, que são extremamente educadas a viverem suas vidas em torno de um relacionamento. Então, nunca ensine a sua criança que o casamento e o relacionamento é uma realização, muito menos a maior realização da vida. Sempre que você vê uma pessoa e o assunto gira em torno apenas de relacionamentos, você está ensinando à criança que esse é o tema mais importante da vida!
Ensine-a também que ela não precisa se preocupar em agradar, e que ter educação - dar bom dia, boa noite, perguntar se está tudo bem, é beeeem diferente de ter que se fazer agradável, sorrindo o tempo inteiro e fingindo que tudo está bem sempre. Ela pode ser ela mesma, com a sua personalidade, honestidade e consciente de que os outres também serão.
Fale que o corpo dela pertence apenas a ela. A criança não pode aprender que precisa dizer “sim” para coisas que está se sentindo desagradável ou pressionada a fazer. E também insira, conforme a idade for se apresentando, conversas sobre sexualidade - no início da vida elas serão apenas denominar seus órgãos sexuais, por exemplo.
Por fim, em um ensinamento que interliga e perpassa esses tantos outros citados no texto, ensinem às suas crianças sobre uma linguagem de amor saudável. Elas merecem saber que amar não é apenas dar, mas também receber - é uma troca. Ninguém precisa se sacrificar pelo amor de outra pessoa, assim como ninguém merece se sacrificar pelo nosso amor.
Esperamos que esse dia dos pais seja vivido com muita presença, dedicação e educação.
Texto de Bárbara Silva Viacava
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