Maternidade com Prazer
Quem tem medo da mãe que goza?
Para Freud, o bebê era o objeto fálico da mulher e a maternidade era uma saída para a mulher se sentir completa. Hoje sabemos que não, que isso não é verdade. Pelo contrário, essa afirmação é sufocante e angustiante.
O que quer uma mãe?
Mãe, tem fome do quê?
O quê? Mães transam?
Troque o falo pelo bebê e a vulva/vagina nunca serão descobertas.
"A mulher constitui o tabu" somos temidas e por isso somos aprisionadas.
A cultura distancia as mulheres dos seus corpos e saberes da sua sexualidade.
Somos socializadas a ter medo e ensinadas a obedecer, ser boazinhas, fechar as pernas. Nos ensinaram que para brincar tinha que ser só com a boneca, brincar de ser mãe, mas há tantas formas de fantasiar.
A maternidade é função, a mãe é função.
Por que cuidar e amar não são sinônimos de gozar? Onde fica a sexualidade da mãe?
Falta de libido ou cansaço?
A tripla jornada tritura e transforma nossa libido em pó.
Noites mal dormidas, carga mental, travessia do puerpério e transformações fazem com que não se reconheça mais no corpo, roupas e desejos.
Equilibrar os pratinhos muitas vezes é o único movimento possível com o peso de tantas idealizações e expectativas. Como dar lugar e espaço aos apetites e prazeres do corpo? O tempo passa, o bebê cresce, a criança surge. Como voltar a brincar na cama como mulher? Sentir o corpo.
Como retomar o prazer da carne? Intimidade, diálogo e respeito consigo.
A pressão externa por acelerar o processo de retorno das relações sexuais pode ser violenta e afastar a retomada de uma sexualidade mais autoral e desidealizada.
A pressão estética e os padrões irreais de beleza distanciam todos os dias mulheres mães de seus corpos.
Corpo que nos é roubado no mar de exigências e expectativas.
Qual é o corpo de uma mãe? Qual é a cara de uma mãe?
Onde queres separação e exclusão, tens desejo e multifacetas.
Corpo santificado, corpo amaldiçoado.
O tabu é reforçado quando uma mãe não se encaixa na figura aceita de mãe.
Nossas individualidades e subjetividades são mutiladas em sua capacidade de sentir prazer e no exercício de outras funções que não as maternas.
A puta e a santa. Madalena e a Virgem Maria. Somos todas.
Ao se tornar mãe, se incorporam as representações de mãe e filha previamente construídas e que servirão de base na nova percepção de si e identidade. Após o nascimento da minha filha, preciso lidar com todas as incoerências e humanidades. Ser mãe e ser filha. Ter uma filha.
Contemplar a beleza e sexualidade da minha mãe.
Contemplar as minhas exigências como filha.
A mama como fonte de alimento, mas também como fonte de prazer e excitação. Corpo que gera vida, mas não só.
Como coexistir e como habitar esse corpo?
Como nutrir uma sexualidade mais autêntica, libertadora e humana em nossas relações? Como sair das ideias sufocantes de pureza?
O ser mulher muda conforme a posição sociocultural. Não há essência feminina, mas a maternidade evoca um forte supereu, instância punitiva e julgadora que internaliza normas, valores morais e tensão social.
Não há corpo separado da cultura e do simbólico.
A cultura que produz sintomas e neuroses. A moral é a causa da neurose, que obriga todo mundo a gozar do mesmo jeito e isso é adoecedor.
Dividir o trabalho de cuidado para retomar o tesão, desconstruir o ideal de amor romântico para retomar o tesão, discutir a hipocrisia sexual, falar sobre o corpo erógeno para retomar o tesão.
Buscar se recriar e se reconhecer psíquica e sexualmente.
Transformar e desmistificar a função de ser mãe e mulher para poder conciliar de forma satisfatória os prazeres. Nutrir o corpo como potencialidade erótica e erógena.
Estamos famintas. Fome de estímulos, de satisfação.
Buscar o autoerotismo, o se deleitar consigo. Com prazer, sensações renovadas pela imaginação. Sem censuras. Sem cobrir com a mão o próprio riso. Gozando de muitas formas.
_
Texto de @maiarafidalgo
Deixar comentário
Este site é protegido por hCaptcha e a Política de privacidade e os Termos de serviço do hCaptcha se aplicam.