A Fisiologia do Orgasmo: o que acontece no nosso corpo
O que é orgasmo? O que acontece com o corpo durante um orgasmo?
Durante muitos anos, e até pouco tempo atrás, as informações que tínhamos sobre sexualidade eram em grande parte apenas especulativas, sem pesquisa, sem dados, sem embasamentos. Até no campo da ciência o tema era um tabu deixado de lado e esquecido lá no fundo dos outros tantos temas.
Uma das teorias mais amplamente divulgadas sobre o orgasmo feminino foi a do orgasmo vaginal, disseminada por Freud, que segue sendo espalhada por muita gente. Essa teoria afirmava que durante o amadurecimento da mulher de menina para adulta, haveria uma transferência natural do orgasmo clitoriano para o orgasmo vaginal.
De lá pra cá, muita coisa mudou: ampliamos o nosso repertório e hoje compreendemos o gênero pra muito além do nosso sexo biológico, estudamos e nos indentificamos com a pauta queer e muitas outras pesquisas sobre sexualidade foram feitas.
O casal William Masters e Virginia Johnson foi quem investigou, na década de 70, de forma mais consistente, a nível anatômico e fisiológico, sobre como se dava a resposta sexual humana - e investigaram em laboratório as reações do organismo humano aos estímulos sexuais.
Fases da resposta sexual
As pesquisas de Masters e Johnsons mostram duas respostas básicas ao estímulo sexual: vasocongestão generalizada e miotonia (aumento generalizado da tensão muscular). Alterações fisiológicas ocorrem não somente nos órgãos reprodutores, mas em todo o corpo.
Dividiram elas em quatro fases: fase de excitação, de platô, orgásmica e final ou de resolução. Nelas estão inclusas alterações anatômicas e fisiológicas específicas nos níveis genital, extragenital e cardiorrespiratório.
Primeira fase: de excitação
Ela se desenvolve a partir de qualquer estímulo somático ou psíquico. No homem, corresponde à ereção do pênis e, na mulher, à lubrificação vaginal, congestão dos vasos do clitóris (que se torna ereto em algumas mulheres) e início da dilatação e distensão da vagina.
Nota da editoria: na época dos estudos, a lubrificação vaginal era um dos sinais. Hoje sabemos que a lubrificação pode não existir, mesmo com a mulher estando excitada, da mesma forma que o contrário também pode ocorrer.
Segunda fase: de platô
Essa fase corresponde ao ponto das tensões sexuais, logo antes do orgasmo. É quando a reação vasocongestiva da genitália feminina e masculina encontra-se no ponto máximo, originando reações específicas. Na mulher, forma-se a plataforma orgásmica, que é o aumento da vasocongestão do terço externo da vgina, elevando-se o útero completamente da cavidade pélvica. Para o homem, representa o momento de maior enrijecimento do pênis, duplicando os testículos de tamanho e ocorrendo a emissão de algumas gotas de fluido mucóide.
Terceira fase: orgásmica
A fase orgásmica é a liberação, em poucos segundos, da vasocongestão e miotomia provocadas pelos estímulos sexuais.O orgasmo no pênis costuma se evidenciar pela expulsão do líquido seminal e é provocado por contrações penianas que ocorrem em intervalos de 0,8 segundo e vão aos poucos reduzindo. Na vulva as reações são semelhantes, vindas em contrações da plataforma orgásmica, no terço anterior da vagina, a cada 0,8 segundo, que diminuem progressivamente. O que difere em ambas é a intensidade e duração da experiência orgásmica - pessoas com pênis tendem a apresentar respostas mais padronizadas, com menos variações individuais, enquanto as pessoas com vulva apresentam muita variação em relação a duração e intensidade da experiência orgásmica.
Quarta fase: de resolução
A última fase é aquela na qual todas as reações fisiológicas cessam, e o corpo aos poucos vai voltando ao seu estado anterior aos estímulos. Pessoas com vulva quando estimuladas novamente podem experimentar novamente a experiência orgásmica após essa fase. Pessoas com pênis geralmente precisam de um período antes que possa reagir a novos estímulos. Esse tempo se chama de tempo refratário.
Outras respostas do corpo: para além das genitálias
Sabemos que para além dos órgãos sexuais, todo o nosso corpo responde de alguma forma aos estímulos que recebe. Nos seios os mamilos ficam também eretos em todas as pessoas, normalmente na fase de excitação e platô.
Contrações voluntárias ou involuntárias dos músculos também ocorrem ao final da fase de excitação e durante o platô. E a contração na musculatura das mãos e dos pés é uma característica da fase orgásmica.
No quesito cardiorrespiratório, os fenômenos que costumam ocorrer são a hiperventilação, taquicardia e aumento da pressão sanguínea. Elas são geralmente no final da fase de platô e durante a fase orgásmica. A presença de suor se dá após a experiência orgásmica, e quanto mais intensa for esta experiência, maior essa reação.
Nos grandes lábios e pequenos lábios da vulva também ocorrem transformações. Nos grandes lábios, para quem já teve filho, costumam tornar-se mais finos, e para quem não teve filho, costuma duplicar ou triplicar seu tamanho. E nos pequenos lábios ocorre o aumento do diâmetro em até três vezes seu tamanho e mudança de cor.
Nas pessoas com pênis ocorrem também respostas no escroto e nos testículos. Além da ereção, o pênis tem um leve aumento em seu diâmetro durante a fase de excitação. E ainda nessa fase há o retesamento e engrossamento do escroto, tornando-se liso, sem as dobras características do estado não estimulado, e ambos os testículos iniciam um movimento de elevação em direção ao períneo. E outra reação verificável é o aumento do tamanho dos testículos, que pode ser em até 50% a mais do seu estado não estimulado.
Esse estudo realizado nos anos 70 foi e segue sendo extremamente importante para entendermos a reação dos nossos corpos aos estímulos sexuais. Nosso corpo reaciona de formas padronizadas e ao mesmo tempo distintas, e quanto mais soubermos sobre isso, mais entenderemos como o nosso próprio corpo reage. E bem, como todes sabemos, conhecimento é autonomia.
*Referência Bibliográfica O orgasmo feminino, de Maria Nadege de Souza.
Texto de Bárbara Silva Viacava
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