COMPREENDENDO A ANORGASMIA
O tema da semana é orgasmo, e é uma delícia poder trazer mais informações e dicas sobre o assunto, e apesar de ser algo fácil e tranquilo pra muitas, o que fazer quando outras tantas não conseguem ter orgasmos de jeito nenhum? Ou apenas raríssimas vezes na vida? Primeiro saibam que vocês não estão sozinhas, pesquisas do Journal Of Sex & Marital Therapy já apontaram que mais de 60% das mulheres no mundo já experienciaram algum tipo de anorgasmia, e aqui no Brasil, como diz o estudo do Centro de Atenção à Mulher em Pernambuco, o número chega a 35%. Anorgasmia é justamente essa ausência ou extrema dificuldade de chegar ao clímax nas atividades sexuais.
Digo algum tipo, porque existe a anorgasmia primária, que é quando a pessoa nunca experienciou nenhum orgasmo (mesmo tentando), a anorgasmia secundária, que é ter uma grande dificuldade, podendo a pessoa ter conseguido alcançar o orgasmo em algumas poucas ocasiões, e algumas outras pequenas variações dessa disfunção. Porém esse termo "disfunção" me incomoda um pouco, justamente por ser bem raro que a causa seja biológica. O que mais vemos é uma questão emocional e psicológica que afeta a funcionalidade e corta as potências do nosso corpo. Se a vida inteira você ouviu em casa e de todo o mundo que mulheres não são seres sexuais, que é errado se tocar, que ter prazer é pecado, como vou dizer que a disfunção é mais uma culpa do seu corpo? A disfunção maior está na sociedade, minhas amigas, e isso também é muito triste de constatar.
Não é atoa que a maioria de pessoas afetadas pela anorgasmia são do gênero feminino, que é a parte da população que mais sofre repressão sexual e que tem mais dificuldade de chegar ao clímax. E essa privação do orgasmo pode ser um sintoma de inúmeras outras questões. É algo que pode acontecer por causa de vergonha do próprio corpo, por ter passado por algum trauma sexual, depressão, stress, início recente nas atividades sexuais, se sentir pressionada pel@ parceir@ ou pela religião, dispareunia (dor durante a penetração), e uma série de inseguranças, medos e ansiedades. Mas também a condição pode vir como efeito colateral do uso de alguns medicamentos, como hormônios e antidepressivos, ou drogas, como álcool. E em casos mais raros, alguma disfunção no sistema nervoso ou má formação na região genital.
Mas, felizmente, a maioria dos médicos afirmam que essa não é uma condição eterna e que há sim tratamento. Esse tratamento pode vir de uma ajuda psicológica, com terapeutas sexuais, psicólogos e psiquiatras, e também pode vir de ginecologistas, fisioterapeutas pélvicas e uma boa educação sexual. Cada caso vai necessitar de um ou um conjunto de olhares específico.
Muitas de nós não nascemos já sabendo gozar e isso é completamente normal. Na maioria das vezes só a prática e um conhecimento profundo do próprio corpo podem nos guiar para uma vida sexual satisfatória. Como você se sente ao se tocar? Emocionalmente e fisicamente? Como você gosta de ser tocada? Do que você precisa pra desligar os problemas da mente e entrar no clima? Você dá atenção ao clitóris ou acha que o orgasmo precisa vir apenas da penetração? Você está pronta pra se dedicar à isso ou ainda há outras partes na vida que necessitam de mais atenção?
Esses são questionamentos muito válidos pra se fazer antes de achar que está "quebrada" e que seu corpo simplesmente não funciona como deveria. Temos provas o suficiente pra afirmar que a sexualidade não começa no ato sexual, é um aglomerado de todas as áreas da vivência humana que vão muito além da cama. Como disse no texto anterior, nosso maior órgão sexual é o cérebro, então cuidemos bem dele e aos poucos vamos nos livrando dos ruídos que afetam o restante do corpo.
Não tenham medo ou vergonha de pedir ajuda, buscar informações, investir no que te faz bem e cuidar de si por completo. Essa é uma jornada longa e bonita, e todas estamos juntas nessa.
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1 comentário
Quanto esclarecimento necessário neste tema tratado e com riqueza, na maneira de trazer o texto. Parabéns Clariana Leal
Maria Helena Santos Barros Leal
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